terça-feira, 8 de setembro de 2009


A beleza transitória
Há muito tempo, quando o Buda Sakyamuni se encontrava no Pico da Águia, havia uma cortesã chamada Lótus, na cidade de Rajagriha. Ela era mais bela do que qualquer outra mulher da cidade, e não parecia haver ninguém que pudesse se igualar à sua beleza. Todas as mulheres a invejavam e todos os homens a adoravam. Por tudo isso, um dia, Lótus concebeu um desejo de iluminação e decidiu segregar-se dos assuntos mundanos, tornando-se uma freira budista.

Ela partiu para o Pico da Águia para visitar o Buda Sakyamuni. No caminho sentiu sede e parou num riacho de águas límpidas. Quando estendeu suas mãos para a água, ficou impressionada com o reflexo de seu rosto na superfície e foi cativada pela sua própria beleza. Seus olhos claros, seu nariz afilado, os lábios vermelhos, as maçãs rosadas, os cabelos exuberantes e a perfeita harmonia de suas feições combinavam completamente, convencendo-a de que era extraordinariamente bela. Ela pensou: "Que mulher bonita sou eu! Por que pensei em querer deixar de lado este corpo belo e viver como uma freira budista? Não, não farei isto. Com uma beleza como a minha, tenho certeza de que encontrarei a felicidade. Que idéia tola a de me tornar uma asceta." Imediatamente, ela virou-se e começou a retornar, pelo mesmo caminho.

No Pico da Águia, o Buda Sakyamuni havia assistido Lótus durante o tempo todo. Ele achou que estava na hora de ajudá-la a desenvolver o desejo de iluminação. Utilizando-se de seus poderes ocultos, o Buda se transformou numa mulher extraordinariamente bela, muito mais ainda do que Lótus, e a esperou no caminho de Rajagriha.

Desconhecendo a intenção do Buda, Lótus, enquanto imaginava vários prazeres mundanos, encontrou uma mulher desconhecida muito bonita no sopé de uma montanha. Atraída pela sua beleza, Lótus dirigiu-se espontaneamente a ela: "Você deve ser estranha por aqui. Para onde está indo completamente sozinha? Você não tem marido, filhos, irmãos? O que uma mulher tão bonita está fazendo aqui totalmente só." A desconhecida respondeu: "Estou voltando para a cidade de Rajagriha. Sinto-me tão solitária caminhando o trajeto todo. Se não for inconveniente, poderia acompanhá-la?"

As duas mulheres logo se tornaram muito amigas e viajaram juntas pela colina. Quando passaram por um pequeno lago, decidiram descansar um pouco. Sentaram-se na grama e conversaram por algum tempo. Enquanto Lótus falava, a outra mulher repentinamente adormeceu, com sua cabeça sobre os joelhos de Lótus. No momento seguinte, sua respiração cessou. Diante do olhar aterrorizado de Lótus, o corpo da mulher começou a degenerar, exalando um odor cadavérico. O corpo inchava grotescamente, a pele se rompia e as entranhas saíam, logo sendo infestadas por vermes. O cabelo da mulher morta caiu de sua cabeça, seus dentes e sua língua se separaram de seu corpo. Era realmente uma visão odiosa.

Vendo essa fealdade apavorante diante de si, Lótus ficou pálida, pensando: "Mesmo uma beleza celestial é reduzida a isso quando morre. Não obstante o quão confiante eu era de minha beleza, não tenho meios para saber por quanto tempo irá durar. Oh! Como fui estúpida! Devo procurar o Buda e buscar a iluminação." Então, Lótus dirigiu-se novamente ao Pico da Águia.

Chegando à presença do Buda, Lótus se atirou diante dele e relatou-lhe o que havia acontecido a ela no caminho até lá. O Buda fitou-a com benevolência e pregou-lhe os quatro seguintes pontos:

1) Todas as pessoas envelhecem;

2) Mesmo um homem muito forte infalivelmente morrerá;

3) Não importando quanto a pessoa viva feliz com sua família ou amigos, o dia da separação certamente virá;

4) Ninguém pode levar sua riqueza para o mundo após a morte.

Lótus compreendeu imediatamente que a vida é efêmera e que somente a Lei é eterna. Ela se aproximou do Buda e pediu-lhe que a aceitasse como sua discípula. Quando o Buda lhe deu a sua permissão, seus abundantes cabelos pretos caíram no mesmo instante e sua aparência transformou-se completamente na de uma freira budista. Desse momento em diante, ela se devotou sinceramente à prática budista e atingiu eventualmente o estágio de arhat, sendo qualificada a receber os oferecimentos e o respeito das pessoas.

Fonte:
Terceira Civilização — Maio/1985

Parábola


A parábola da cítara
1 - O Buda Sakyamuni tinha um discípulo chamado Sona. De uma família muito rica, Sona era um jovem muito alegre inteligente. Após renunciar à vida secular, Sona dedicou-se com afinco à prática para atingir a iluminação. Sua busca ávida o levou a definhar, tanto que fcou irreconhecível.

2 - Apesar de seu itenso esforço, Sona não conseguia atingir seu objetivo Por isso, cada dia ele ficava mais triste e melancólico. Não conseguia entender o motivo de seu fracasso e isso o deixava agoniado.

Até que certo dia, o Buda foi visitá-lo.

Conhecendo a habilidade de Sona em tocar cítara, o Buda perguntou-lhe:

— Sona, você não pode produzir um bom som na cítara se apertar demais a corda, não é?

3 — Sim, é verdade mestre —respodeu-lhe Sona.

— E do mesmo modo, você não pode produzir um bom som se afrouxar demais a corda, não é?

— Está corretíssimo, mestre —concordou Sona.

4 — Então, o que você faria?—perguntou-lhe o Buda.

— Mestre, para extrair um bom som da cítara é preciso afinar as cordas apropriadamente. Não se deve afrouxá-las demais.

—Sona, não percebe que a prática do Caminho que eu prego é exatamente o mesmo? Se você exagerar em sua prática, forçará sua mente e ficará tenso. Mas se você relaxar sua mente demais, será derrotado pela preguiça. Como a cítara, você deve encontrar um equilíbrio na prática do Caminho. Assim Sona compreendeu que a prática da fé deve ser conduzido com bom senso e equilíbrio.

5 - Nesta parábola Sakyamuni ensina sobre o "Caminho do Meio". O Caminho do Meio é um princípio que se refere a visão correta da vida ensinada pelo Buda. É o caminho da ponderação, do bom senso e do equilíbrio.

Fonte:
TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, EDIÇÃO Nº 408, PÁG. 12, AGOSTO DE 2002.